
Acredito ser importante esclarecer algumas notícias e informações que estão sendo divulgadas sobre os supostos "Ataques de águas-vivas".
Em primeiro lugar, águas-vivas e caravelas não "atacam" as pessoas. São animais que vagam pelos mares ao sabor das correntes e ocasionalmente podem provocar acidentes quando os banhistas se aproximam e, inadvertidamente, chocam-se contra esses seres. Se pudessem, eles evitariam tal contato.
O verão é uma época natural de reprodução desses animais. Com esse objetivo, eles formam grandes agregações onde machos e fêmeas se encontram. Ocasionalmente, uma corrente marinha pode levar esses animais a se aproximarem mais do litoral e o aumento da interação com homem pode provocar um correspondente aumento no número de acidentes.
Está em moda hoje culpar o "Aquecimento Global" por alguns eventos da natureza, porém não há evidências científicas que comprovem tal relação, incluindo o suposto aumento nas ocorrências de águas-vivas e caravelas no litoral brasileiro.
A meu ver, o que está ocorrendo não é simplesmente um aumento no número de casos, mas sim um aumento considerável no número de relatos de casos de acidentes com esses seres marinhos . Como a imensa maioria dos casos no Brasil são brandos (a vítima trata do ferimento em casa), ainda que todos os verões ocorram centenas de acidentes, os mesmos não costumam ser relatados. Agora, nesse verão, que apenas está começando, mesmo que se possa considerar um aumento real no número de casos, o que seria absolutamente normal, as primeiras reportagens e relatos incentivaram novas reportagens e novos relatos, provocando um efeito em cascata retroalimentado pela mídia e pela extraordinária (e relativamente nova) propagação da informação na internet.
A fim de esclarecer os fatos e transmitir informações corretas sobre esses animais e sobre como agir em caso de acidente, segue abaixo um texto tirado do meu livro Seres Marinhos Perigosos.
Instituto Ecológico Aqualung Rua do Russel, 300 / 401, Glória, Rio de Janeiro, RJ. 22210-010 Tels: (21) 2558-3428 ou 2558-3429 ou 2556-5030 Fax: (21) 2556-6006 ou 2556-6021 E-mail: instaqua@uol.com.br Site: http://www.institutoaqualung.com.br/
- A primeira medida é lavar abundantemente a região atingida com a própria água do mar para remover ao máximo os tentáculos aderidos à pele. Não utilize água doce, pois ela poderá estimular quimicamente (por osmose) os nematocistos que ainda não descarregaram sua peçonha
- Não tente, de modo algum, remover os tentáculos aderidos com técnicas abrasivas, como esfregar toalha, areia ou algas na região atingida.
- Para prevenir novas inoculações __ ao desativar os nematocistos ainda íntegros e também neutralizar a ação da peçonha __, banhe a região com ácido acético a 5% (vinagre) por cerca de 10 minutos (as soluções de sulfato de alumínio ou amônia, ambas diluídas a 20%, são alternativas para a falta do vinagre). É importante lembrar que o vinagre não possui nenhuma ação benéfica sobre a dor já instalada pela inoculação inicial.
- Remova suavemente os restos maiores dos tentáculos aderidos com a mão enluvada e com o auxílio de uma pinça. Para retirar os fragmentos menores e invisíveis tricotomize o local com um barbeador ou com uma lâmina afiada. Pode-se aplicar antes um pouco de espuma de barbear em spray, lembrando-se de não esfregar a região. n Lave mais uma vez o local com água do mar e reaplique novos banhos de ácido acético a 5% (vinagre) por 30 minutos.n Para remover os nematocistos remanescentes pode-se aplicar no local uma pasta de bicarbonato de sódio, talco simples e água do mar. Espere a pasta secar e a retire com o bordo de uma faca.
- Caso a dor continue, use compressas geladas no local e substâncias analgésicas sistêmicas para reduzir os sintomas álgicos.
- Havendo reação alérgica/inflamatória, aplique uma camada fina de loção do corticóide betametazona (Betnovat) duas a três vezes ao dia. Nos casos mais graves, utilize anti-histamínicos ou corticóides orais __ consulte sempre um médico para orientação
- Em caso de infecção secundária, será necessário o uso de antibióticos com amplo espectro, tópico (bacitracina ou neomicina) ou sistêmico (ampicilina + acido clavulânico), de acordo com a gravidade __ consulte sempre um médico para orientação.
*Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor do livro GUIA AQUALUNG DE PEIXES, editado em 1991, de sua versão ampliada em inglês AQUALUNG GUIDE TO FISHES, editado em 1992, do livro SERES MARINHOS PERIGOSOS, editado em 1998/99, do livro PEIXES MARINHOS DO BRASIL, editado em 2000/01, do livro TUBARÕES NO BRASIL, editado em 2004, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).
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